Os autarcas dos três municípios do território Arrábida, Setúbal, Palmela e Sesimbra, anunciaram ontem que vão pedir uma reunião urgente com a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, para debater a situação das urgências de ginecologia e obstetrícia na Península de Setúbal.
No final de uma reunião com a administração da Unidade Local de Saúde da Arrábida, realizada no Hospital de São Bernardo, os presidentes das câmaras municipais de Setúbal e Sesimbra, André Martins e Francisco Jesus, e o vice-presidente de Palmela, Luís Miguel Calha, defenderam que devem manter-se abertas as urgências da especialidade de todos os hospitais da Península – Setúbal, Almada e Barreiro.
“Desta informação toda que nós recebemos aqui destes profissionais, o que ressalta é que as informações que são públicas nos deixam muito preocupados, mais do que estávamos há uns tempos”, disse André Martins, sublinhando que, além das urgências, o problema da especialidade de ginecologia e obstetrícia estende-se ao serviço clínico no hospital, que também “tem de ser garantido”.
O presidente da Câmara de Setúbal afirmou que é “fundamental” pedir uma reunião com a ministra “para esclarecer claramente o que significa” a noticiada ideia de concentração das urgências da especialidade no Hospital Garcia da Orta, em Almada, e saber “se há algum plano para olhar para a Península de Setúbal” e para a oferta nela existente.
“Estas medidas, pelo menos do que é conhecido publicamente, não são solução nenhuma que nos garanta a continuidade de um serviço que é fundamental”, disse, frisando ser necessário pensar nas pessoas que vão às urgências e nas que estão nos serviços.
Depois de referir que os autarcas tiveram conhecimento através da comunicação social de que a ministra tinha dito “que no final de setembro podia resolver o problema na Península de Setúbal com a criação de uma equipa no Hospital Garcia da Orta”, André Martins considerou que isso poderá implicar “complicações graves para os utentes” da região.
“Vamos pedir à senhora ministra uma reunião com carácter de urgência, para avaliarmos a situação. O que transparece da informação que colhemos é que se está muito a procurar resolver o problema das urgências, sempre com dificuldades, mas o problema não é só esse, é também o funcionamento dos serviços. Os doentes que estão nos serviços precisam de ser tratados e precisam lá dos profissionais”, enfatizou.
O presidente da Câmara de Setúbal indicou que os autarcas pretendem saber se o problema está a ser visto “numa perspetiva global e integrada”, além de “como funciona a questão dos três hospitais”.
Francisco Jesus disse que na reunião com a administração da Unidade Local de Saúde da Arrábida (ULSA), os autarcas também tentaram perceber, a partir do ponto de vista do elenco presidido por Luís Pombo, quais os problemas que existem no terreno e as eventuais soluções.
“É um problema conjuntural, mas que se agravou nos últimos tempos. O que temos é um encerramento programado das urgências de obstetrícia repartido rotativamente pelos três hospitais da Península de Setúbal”, afirmou o presidente da Câmara de Sesimbra, notando que um funciona na segunda, terça e quarta-feira, outro na quinta e sexta-feira e outro no sábado e domingo.
O autarca adiantou que lhes foi transmitido que “as equipas estão altamente reduzidas e esgotadíssimas”, além de que “grande parte da equipa de obstetrícia do hospital de São Bernardo tem mais de 55 anos”, pelo que “têm redução de horário” e “já nem sequer existe a obrigatoriedade de fazer urgências”, disponibilizando-se “por uma questão de necessidade neste momento e de resposta” às necessidades das populações.
“Será preferível, com as equipas existentes, manterem-se abertas todas as urgências obstétricas nas três unidades hospitalares. Cada uma delas ficava a dar resposta aos seus concelhos de origem, sendo que aqui, para além de Setúbal, Palmela e Sesimbra, temos o território do Litoral Alentejano”, sustentou. “Não sendo possível em cada uma delas, pelo menos duas tinham de ficar a funcionar para se poder dar resposta”.
Afirmando que esse “é o entendimento também da administração” da ULSA, na qual está integrado o Hospital de São Bernardo, Francisco Jesus admitiu que a urgência de ginecologia e obstetrícia do hospital setubalense só fecharia “em situações de alguma maior dificuldade, apesar da dificuldade que tem” no que diz respeito aos recursos humanos.
Francisco Jesus disse que “o problema de fundo tem a ver com a dificuldade de contratação de profissionais, que vão sendo atraídos para o setor privado”, defendendo a criação de “condições para que se fixem no Serviço Nacional de Saúde” através de “contratações com um valor acrescentado para vagas carenciadas”, as quais deviam contemplar “todos os hospitais da região, incluindo o São Bernardo”.
Fonte/Foto: CM Setúbal