O presidente da Câmara Municipal, André Martins, sublinhou em 13 de abril, num almoço-tertúlia comemorativo dos 51 anos do 25 de Abril realizado nas Pontes, a responsabilidade de entregar às gerações futuras uma sociedade mais evoluída.
“Comemorar o 25 de Abril é sempre uma forma de nos lembrarmos das responsabilidades que temos para que as gerações futuras, para os que vêm a seguir a nós, possam encontrar uma sociedade mais avançada, mais evoluída e onde a esperança seja sempre um objetivo a alcançar”, disse o presidente da Câmara.
Organizado pela Junta de Freguesia de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra e com a participação de representantes da URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses, o almoço-tertúlia “Memórias de Abril” reuniu cerca de 100 pessoas no salão da Cooperativa de Habitação e Construção Económica Força de Todos.
A iniciativa, integrada nas comemorações dos 51 anos do 25 de Abril, foi um momento de convívio e de partilha de testemunhos em torno da memória e dos valores de Abril que teve como objetivo proporcionar uma reflexão sobre o período que o país viveu antes da Revolução e sobre os meses que se lhe seguiram.
André Martins saudou a Junta de Freguesia de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra “por se lembrar de promover esta iniciativa”, que disse ser também uma forma de recordar que “houve muita gente que deu a sua vida para que acontecesse o 25 de Abril” em 1974.
“Nós hoje temos a responsabilidade de continuarmos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que aqueles que venham a seguir a nós tenham uma vida melhor, que é aquilo que nós temos hoje comparativamente com o que havia antes do 25 de Abril. É importante transmitirmos sempre àqueles que estão à nossa volta, aos nossos filhos, netos e amigos, que que é preciso continuar esta luta”, disse.
O autarca afirmou que ao longo destes 51 anos “algumas das promessas que criaram essa esperança de Abril foram concretizadas, mas há muitas que não foram”, e considerou que hoje o país está a “atravessar tempos muito difíceis” em áreas como a saúde, a educação e a habitação.
“Nos últimos 10 ou 15 anos temos vindo a regredir na área da saúde e da educação”, sublinhou, dando como exemplo que, entre as escolas que Setúbal recebeu do Estado central no âmbito da transferência de competências, “duas precisam de ser deitadas abaixo e construídas de novo e outras duas precisam de uma requalificação profunda”, mas a verba do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) já acabou.
“A Câmara Municipal está a elaborar os projetos, mas não temos garantia de qualquer financiamento. Portanto vamos entrar numa situação extremamente complicada também na área da educação”, salientou.
No que diz respeito à habitação, que considerou “dos problemas mais graves” existentes em Portugal, questionou-se sobre “como é possível que, 51 anos depois do 25 de Abril, haja tantas famílias, cada vez mais, que não conseguem pagar as rendas que estão a ser pedidas e, portanto, vão para a rua”, afirmando que nos últimos anos o Estado abandonou a sua responsabilidade nesta área.
“Podem vir dizer que prometem mais 20 mil casas, mais 30 mil casas, mais 40 mil casas, mas uma casa não se constrói de um dia para o outro, nem há, que se saiba, capacidade para construir essas casas. Portanto, a situação vai continuar a agravar-se. Da parte da Câmara Municipal de Setúbal, também neste domínio da habitação, estamos a fazer aquilo que nos compete fazer”, disse.
O autarca recordou que estão a ser investidos “mais de 100 milhões de euros” na requalificação nas habitações municipais, “para que as pessoas possam viver com dignidade nas casas do município”, e que, após a Câmara Municipal realizar uma hasta pública, uma empresa vai construir 170 novas casas para vender a custos controlados, na Azeda.
Como as verbas do PRR acabaram, disse que a autarquia está a negociar com o IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana a criação de financiamento para construir 500 casas novas para arrendar a famílias “de acordo com o orçamento familiar das pessoas” e que aquele instituto “tem o compromisso de contruir mil novas casas em Setúbal”, tendo já iniciado a construção de algumas.
“Da nossa parte, em Setúbal, estamos a fazer o que está ao nosso alcance, mas o problema da habitação é um problema que se tivesse sido planeado ao longo dos anos não estávamos nesta situação. E como as casas não se constroem de um dia para o outro, nós vamos ter problemas mais graves nos próximos tempos para as nossas populações”, concluiu.
O presidente da Junta de Freguesia de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra, Luís Custódio, que tinha 11 anos quando aconteceu o 25 de Abril, referiu que já não viveu esse tipo de situações, mas lembra-se de os pais lhe dizerem “que havia muita gente que a única coisa que levava para o trabalho era uma panela onde metia uma água” para fazer um caldo com um pouco de arroz ou massa e de toucinho dados por outros.
Luís Custódio notou que “uma das coisas que, com o 25 de Abril, mais contribuiu para o desenvolvimento do país foi o Poder Local Democrático” e lembrou que foi com ele que surgiram as freguesias de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra e do Sado.
“Foram duas freguesias que nasceram com o Poder Local Democrático. E todos temos a plena consciência de que, se não tivessem sido criadas as freguesias de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra e do Sado, nós não tínhamos a qualidade de vida que temos”, disse.
Fonte/Foto: CM Setúbal