O presidente da Câmara Municipal, André Martins, destacou, em 15 de fevereiro, a importância histórica e política da obra “Cadeia de Caxias – A Repressão Fascista e a Luta pela Liberdade”, que classificou como um testemunho de coragem e um alerta.
Na apresentação do livro editado pela URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses, o presidente da Câmara afirmou que a obra “não é apenas um relato do passado”, mas também “um testemunho de coragem, de dor e de resistência” e “um alerta para que nunca se apague da memória coletiva o sofrimento imposto pela ditadura fascista em Portugal, um regime que alguns querem fazer esquecer”.
André Martins recordou, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, que a cadeia de Caxias foi “um dos principais instrumentos de repressão do Estado Novo”, onde houve “indescritíveis violações dos direitos humanos” e “homens e mulheres foram encarcerados, torturados e humilhados por se oporem à tirania fascista”, derrotada em 1974 com a revolução do 25 de Abril, cujo cinquentenário ainda se celebra em Setúbal.
Segundo o autarca, o livro é “um dicionário da repressão fascista”, porque “em cada um dos dez mil nomes de presos políticos que passaram por Caxias”, todos recordados nesta publicação, “encontra-se a explicação do que era o fascismo, do que era a privação da liberdade de milhares de pessoas apenas por pensarem de forma diferente, por quererem ter uma vida melhor, por quererem lutar pela democracia”.
Depois de sublinhar que o livro “é uma homenagem a todos os que passaram por Caxias, por Peniche, por Aljube e por tantas outras prisões fascistas”, tanto aos que não sobreviveram como aos que “continuaram e continuam a luta, assegurando que o 25 de Abril não seja apenas um sonho”, reafirmou o “compromisso com a liberdade e a democracia”, tanto política, como social, cultural e económica.
“Recordamos o passado para que não se repita, para que as gerações futuras conheçam o preço da liberdade e para que honremos todos os que lutaram contra o fascismo”, disse, agradecendo à URAP por “tão precioso testemunho do que foi a ditadura fascista” e “a todas e a todos os que se empenharam, talvez até com sofrimento pessoal pelo que tiveram de recordar, na concretização deste livro fundamental”.
André Martins disse ser “muito importante recordar o que foi a vida de tantos homens e de tantas mulheres que, ao longo de muitos anos, lutaram” pela liberdade. “Sem isso não estávamos aqui e nem existia o Poder Local, porque o Poder Local democrático nasce do 25 de Abril e esses homens e mulheres que deram a vida pela liberdade permitiram que acontecesse o 25 de Abril”.
O coordenador da URAP, José Pedro Soares, revelou que, na sequência de “um trabalho muito prolongado de investigação” realizado na Torre do Tombo, a organização tem inscritos na sua plataforma mais de 34 mil e 600 nomes de ex-presos políticos quando vários historiadores “falam em 29 mil do RGP [Registo Geral de Presos].”
José Pedro Soares, ele próprio ex-preso político, lembrou que “praticamente não existem registos” do período entre 1926 e 1933, porque então “as pessoas eram desterradas”, uma vez que, embora já houvesse “o sistema repressivo”, Salazar só “criou o sistema prisional em 1933”, com as cadeias do Aljube e de Angra do Heroísmo, às quais seguiram as de Peniche, em 1934, e as de Caxias e do Tarrafal, em 1936.
“Caxias era uma das cadeias mais temidas, porque era a que estava mais próxima da PIDE e os presos às vezes eram levados ‘la abaixo’, à António Maria Cardoso”, recordou, numa alusão aos interrogatórios realizados na sede da polícia política.
Outro responsável da URAP, Pedro Soares, afirmou que a missão da organização se divide em “preservar a memória” e no “acesso ao conhecimento”, para defender a sociedade “da mentira, da manipulação e dos malabarismos semânticos com que estão constantemente a bombardear o povo”.
A sessão teve início com uma atuação do coro feminino TuttiEncantus, que cantou três músicas de Zeca Afonso, “Canção de Embalar”, “Índios da Meia Praia” e “Grândola, Vila Morena”, esta entoada em conjunto pela plateia, e terminou com o presidente da Câmara a entregar aos presos políticos que se encontravam na sala cópias das suas fichas na PIDE.
Fonte/Foto: CM Setúbal